First Man não é só mais um filme de temática espacial

Júlia Costa
3 min readOct 22, 2018

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Quem acompanha o trabalho de Damien Chazelle sabe que suas produções sempre foram embaladas pelo jazz. Iniciando sua carreira em 2009 com Guy and Madeline on a Park Bench, e passando por Whiplash (2014) e La La Land (2016), seus grandes sucessos, o cineastra já deixou clara a sua capacidade de dirigir e roteirizar produções cinematográficas de altíssima qualidade no que tange aos temas envolvendo música.

Seu novo filme, entretanto, foge à temática habitual.

First Man conta a história de Neil Armstrong (Ryan Gosling), o primeiro homem a pisar na Lua, e possui uma abordagem original em relação à forma pela qual comumente se retrata o período da corrida espacial, pois não recorre ao patriotismo e à propaganda americana já tão presentes em outras produções.

Na verdade, o foco do longa não é a própria corrida espacial, ou a chegada do homem à Lua, mas a trajetória pessoal e profissional de Armstrong, seus sentimentos, medos, conquistas e frustrações. O espectador é convidado a acompanhar os anos desgastantes de testes realizados nas missões anteriores ao Apollo 11 que, ao fracassarem, ceifaram a vida de vários colegas e amigos do protagonista.

A dedicação e a consequente degradação de Armstrong ao longo dos anos são muito bem interpretados por Ryan Gosling, em uma das melhores performances de sua carreira, de modo que é muito fácil sentir empatia pelo personagem desde os primeiros minutos de filme. Para gerar identificação, entretanto, First Man não apela à cenas melodramáticas ou à construção de uma figura de herói americano, muito pelo contrário: é a maneira humana pela qual Neil Armstrong é retratado que gera afinidade e que é, também, responsável por conceder ao filme uma aura de realismo.

Também nas cenas espaciais o filme transmite verdade. Já na sequência inicial o espectador fica imerso na experiência angustiante de estar dentro de um veículo espacial experimental, na órbita terrestre, sob o risco constante de morte a qualquer erro mínimo de cálculo. O filme sabe transmitir o sentimento de claustrofobia e descontrole experienciados pelo protagonista durante suas missões. A sequência final, quando Neil Armstrong e Edwin Aldrin finalmente aterrissam e pousam em terras lunares, é de tirar o fôlego, merecendo destaque para o uso do silêncio como um recurso que possibilitou uma experiência extremamente imersiva.

Seja por critérios meramente técnicos ou mesmo pela capacidade de tocar a quem o assiste, First Man se mostra excepcional, e possui mais profundidade que a maior parte dos longa-metragens de temática espacial. Com uma cinebiografia que não envolve a carreira musical ou o jazz, Chazelle sai da sua zona de conforto e revela que seu talento não está vinculado a uma temática em específico. O filme consolida o diretor como um dos novos nomes de peso no mundo do cinema, e prova que vale a pena dar a devida atenção aos seus futuros trabalhos.

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Júlia Costa

Direito, cinema, política, cultura pop, marxismo e aleatoriedades